Entrevista – Anderson Moreira, co-fundador do NCEP
Anderson Luiz Moreira, 31 anos, co-fundador do Núcleo de Comunicação e Educação Popular, graduado em Comunicação Social com habilitação em Relações Públicas (2004) e em Jornalismo (2005) pela Universidade Federal do Paraná, aceitou conversar com a atual equipe para contar um pouco do processo de fundação do núcleo e sobre o trabalho que desenvolver atualmente.
Criado em 2003, a partir da iniciativa de alunos que buscavam uma maior inserção do comunicador social nos movimentos sociais e populares, o NCEP contou com a colaboração da Profª Drª Rosa Maria Dalla Costa, que viabilizou o projeto e conseguiu com que uma bolsa fosse destinada para cada uma das habilitações do Curso de Comunicação Social da UFPR: Publicidade e Propaganda, Jornalismo e Relações Públicas. A equipe 2009/2010 é composta por cinco alunos bolsistas e seis voluntários, coordenados pela Profª Drª Luciana Panke, tendo como vice a antiga coordenadora e contando com a colaboração da Profª Drª Kelly Prudêncio.
NCEP: Como surgiu a idéia de fundar o NCEP?
ANDERSON: Não lembro exatamente de quem partiu a idéia de criarmos o Núcleo, mas creio que foi da Daniela Mussi, da Carla Cobalchini e da Ana Silvia Laurindo. Estas três, o Marcos Teixeira e eu estávamos envolvidos com Movimento Estudantil, com o CACOS, o Enecos, e o DCE. Então, em 2003 fomos para o Cobrecos (Congresso Brasileiro dos Estudantes de Comunicação Social), realizado em Porto Alegre, foi lá que decidimos criar o NCEP, a partir dos debates e das idéias levantadas no Cobrecos. Quando retornaram para Curitiba conversamos com a professora Rosa Dalla Costa que aceitou coordenar o Núcleo. Foi ela quem permitiu a existência do Núcleo enquanto projeto, propôs sua criação junto ao Departamento de Comunicação e a viabilização das bolsas. Naquele ano foi uma bolsa por habilitação, o que foi motivo de comemoração nossa. Depois vieram as professoras Natália Bueno, Gláucia Brito e por último a Luciana Panke, com quem tive contato através do parceria com o Cefuria. Esta parceria também começou em 2003.
NCEP: Há um trabalho de conclusão de curso no ano de criação do NCEP. Como foi isso?
ANDERSON: O TCC foi iniciativa minha e do Tiago Perretto, que não chegou a fazer parte do Núcleo. Conciliamos a necessidade de realização do TCC com as necessidades do Núcleo. Acredito que mais importante do que as ações propostas naquele projeto é a discussão que fizemos nele, na fundamentação teórica, sobre movimentos sociais e comunicação popular. Foi um aprendizado tremendo e definitivo para eu optar pela comunicação e educação popular. Sei que sou suspeito para falar, mas acho que vale a pena utilizar a fundamentação que fizemos como apoio para as formações que o Núcleo fizer.
NCEP: O que você e seus colegas esperavam atingir com a criação do núcleo?
ANDERSON: Depois de ter passado por Centro Acadêmico e pelo DCE nós entendiamos que nossa atuação precisava ir além das reuniões do DCE e das assembléias dos estudantes. Era muito mais gratificante ir, por exemplo, até o município de Itaperuçu e trabalhar com os estudantes do Colégio Estadual Frei Beda e, acima de tudo, aprender com eles. Hoje eu fico feliz em poder contar, por exemplo, com o Marcos Teixeira, graduado em Publicidade e Propaganda, que foi um dos idealizadores do NCEP e continua contribuindo como educador agora no “Ponto do Cultura”, mantido pelo Cefuria. Nossos objetivos no NCEP eram uma formação teórica em comunicação e educação popular e as ações em comunicação junto às comunidades. Nada de voluntarismo descompromissado, mas uma militância mesmo, no sentido de promover as ações e buscar alcançar resultados com elas.
NCEP: Quais as dificuldades surgiram no caminho?
ANDERSON: Acredito que a maior dificuldade foi a adesão dos demais alunos tanto no Núcleo quanto nas ações que ele desenvolvia. Nós fomos beneficiados pelas três bolsas que recebemos, isso ajudou muito a manter o Núcleo. Se eu não me engano, em 2004 tivemos um projeto aprovado pela UFPR e os recursos permitiram a compra de alguns equipamentos, que foram colocados em uma sala disponibilizada pelo Decom.
NCEP: Como se sente sendo um dos fundadores? Você sempre se interessou por projetos que ajudassem a comunidade de algum modo?
ANDERSON: Eu não queria ter passado pela Universidade apenas para ganhar um diploma, como muita gente faz: pegam o diploma e vão viver suas vidas e esquecem que devem parte de sua formação ao investimento público. Algumas pessoas esquecem que a UFPR é pública, mantida por toda a sociedade através dos impostos que nós mesmos pagamos. Por isso o grupo que criou o NCEP via nele a possibilidade de contribuir, de alguma forma, com quem não tinha acesso à formação universitária. O Núcleo nos ajudou a pensar coletivamente, e não individualmente.
NCEP: Passaram sete anos desde a criação do núcleo. O que você faz atualmente?
ANDERSON: Desde 2003, quando ainda estava no NCEP, desenvolvo meu trabalho como educador do Centro de Formação Urbano Rural Irmã Araujo, o CEFURIA. Ministro oficinas e cursos de comunicação (principalmente rádio) voltados para adolescentes e jovens. Em paralelo, cuido da área de comunicação institucional, sendo responsável pelo nosso site (www.cefuria.org.br) e pelo acervo de vídeo e áudio do nosso Centro de Documentação e Biblioteca Popular Mara Vallauri.
NCEP: Como foi a parceria entre o NCEP e o CEFURIA?
ANDERSON: Através da parceria entre o NCEP e o CEFURIA nós realizamos algumas ações juntos. A primeira foi a mesa redonda “Comunicação nos Movimentos Sociais” realizada em 2004, com auditório lotado. Convidamos a professora Denise Cogo (Unisinos/RS) e o sindicalista Vito Gianotti (Núcleo Piratininga). Outra ação importante foi a atuação na Rádio Escola do Colégio Estadual São Pedro Apóstolo, no Xaxim, em 2008. Lá tivemos uma ótima contribuição da Gabriela Mateos, na época bolsista do NCEP. Mas acredito que a parceria poderia ter sido mais efetiva e nós poderíamos ter feito mais coisas juntos. Não é culpa de um ou outro, mas dessa correria toda que consome nosso tempo como educadores.
NCEP: Qual a sua expectativa em relação ao NCEP?
ANDERSON: A principal é que o projeto não acabe! Que o Departamento de Comunicação da UFPR não deixe de perceber a importância dessa iniciativa. A USP, por exemplo, tem o NCE (Núcleo de Comunicação e Educação), com a coordenação do professor Ismar de Oliveira Soares, um dos acadêmicos que mais discutem a educação em comunicação. Não tenho dúvidas que o NCEP também pode se tornar uma referência no Brasil. E, espero ainda poder contribuir diretamente com o Núcleo. Acredito que podemos rediscutir a parceria NCEP/Cefuria e “trocar figurinhas” principalmente no que diz respeito ao acompanhamento às rádios escolas de Curitiba e Região Metropolitana.
NCEP: O que você gostaria de dizer aos atuais e futuros integrantes do núcleo?
ANDERSON: Paulo Freire disse que “ninguém educa ninguém, ninguém educa a si mesmo. Os homens [e mulheres] se educam entre si, mediatizados pelo mundo”. Então, para os atuais integrantes, vejam nas pessoas COM QUEM (e não PARA QUEM) vocês trabalham a possibilidade de aprender algo que vai além da universidade. Nestes anos mais aprendi, principalmente com adolescentes e jovens, do que realmente ensinei. Para quem pretende entrar, que não pense no NCEP como uma oportunidade de cumprir as horas de atividades extra-curriculares, mas numa oportunidade diferenciada de aprendizado. ´Talvez esteja aí (atuar como educador em comunicação) o futuro enquanto profissional de comunicação.