Daniel, o imigrante haitiano que encontrou na universidade o caminho para a integração ao novo país
Educação e comunicação foram fundamentais para que os diferentes desafios da adaptação fossem vencidos
Estudante de direito, músico e ator, o haitiano Daniel Felice, de 31 anos, percorreu um caminho de aprendizado e dedicação desde sua chegada a Curitiba, no final de 2013.
É velho conhecido dos professores e voluntários que circulam pela Reitoria da UFPR (Universidade Federal do Paraná) aos sábados, e que foram, através do PMUB (Programa Política Migratória e Universidade Brasileira) responsáveis por ajudar Daniel a começar vida nova no Brasil e aprender a se comunicar.
Depois de descobrir que as escolas de idiomas não ofertavam aulas de português para estrangeiros, ele, que ouviu a primeira palavra no idioma ao desembarcar no aeroporto, conheceu o programa da universidade por intermédio de um amigo.
“Foi muito difícil”, confessa. Mas Daniel, que já sabia inglês e francês, além do créole haitiano, aprendeu e seguiu com os planos de estudar, razão de sua vinda ao Brasil. Hoje, através de uma política de acolhimento da universidade, está no terceiro ano de direito na UFPR, curso que iniciou no Haiti, e não pensa em parar por aí.
Foi na universidade que começou a viver de fato o Brasil. “No meu dia a dia eu saio com brasileiros, a maioria dos meus amigos são brasileiros. Eu fico o dia inteiro na faculdade, então é mais fácil a integração. Um haitiano que fica trabalhando e depois volta para casa cansado, é bem diferente. Não vou dizer que a minha história é comum para todos os haitianos”, conta Daniel.
.
O estudante também atua como secretário da Associação dos Haitianos em Curitiba, com sede no Largo da Ordem. Lá, os imigrantes podem encontrar orientações sobre a emissão de documentos e a legislação brasileira. A associação conta com colaboradores de diferentes especialidades, como advogados e psicólogos. “A gente ajuda como pode”, conta Daniel.
Ele divide seu tempo entre a faculdade, a música e o cinema. Gosta de cantar, e atualmente está envolvido no projeto de um longa-metragem sobre imigração, no qual vai atuar. No ano passado, interpretou o imigrante Jean no curta “O Estacionamento”, de William Biagioli. O filme ganhou o prêmio de melhor curta-metragem no Festival do Rio 2016.
Daniel acredita no poder da educação: “Meu conselho para qualquer estrangeiro é achar uma escola para aprender a língua. É importante para qualquer coisa que vá fazer. Com a educação vai conseguir muitas coisas que às vezes você nem imagina”.
Do país que escolheu para começar uma nova vida, o que mais gosta são as pessoas, e uma viagem que fez para o Rio de Janeiro. Acha os parques de Curitiba bonitos, e confessa não ter se acostumado com o frio da capital paranaense.
Sobre o futuro, Daniel ainda pensa. O mestrado em Relações Internacionais é uma possibilidade. Certo é que ele não quer fazer uma vida fora do Haiti. “Eu quero participar, ajudar meu país. Eu acho que a mudança de um país, o que a gente espera não depende só dos políticos, cada cidadão tem o dever de fazer o que pode”, explica.