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Entrevista – Gilmar Freitas, o visionário


Gilmar de Freitas Mariano, 26 anos, é um exemplo de inclusão social. Aos 12 anos perdeu a visão em um acidente com arma de fogo e reaprendeu a conhecer pessoas e objetos pelo tato e pelo som. Continuou os estudos a princípio numa escola de educação especial através do método Braille e Soruban e posteriormente ingressou no ensino convencional. Gilmar fez estágios durante o ensino médio e também durante a graduação. Hoje é pedagogo, especializado em administração estratégica e gestão da qualidade e trabalha como analista Junior num grande banco.

Ele aceitou conversar com o NCEP para contar um pouco da sua história, discutir sobre a acessibilidade dos deficientes visuais nas ruas de Curitiba, cultura e muito mais! Confira!

NCEP: Quando saiu da escola especial e passou a conviver com colegas e professores não-habituados a lidar com uma pessoa com deficiência visual, como se sentiu?

GILMAR FREITAS: O problema é exatamente este “professores não-habituados a lidar com uma pessoa com deficiência visual” e também alunos, pois temos que provar a todos que somos capazes. Também é preciso ter força para não desistir ao ouvir frases como “Coitadinho, ele não vai conseguir!” ou “Você deveria estudar numa escola especial!”. Outro desafio para a escola inclusiva são as aulas excludentes onde os professores não capacitados para ensinar o aluno deficiente visual. Os professores acabam substituindo provas por trabalhos, explicam de maneira visual onde somente quem pode visualizar entende. Na aula de matemática, por exemplo, é muito comum ouvir o professor dizer “Pega o número de cima e divide pelo de baixo”, ao invés de dizer quais são os números

NCEP: Por que escolheu cursar pedagogia?

GILMAR FREITAS: Para contribuir na formação de uma sociedade mais inclusiva. Hoje apesar de não atuar como pedagogo, desenvolvo vários trabalhos de consultoria em educação inclusiva e estou à disposição para responder entrevistas de cunho educativo como esta e também para auxiliar ou tirar dúvidas de professores através de meu e-mail pessoal: gilmarfmariano@onda.com.br.

NCEP: Você sentiu dificuldades ao ingressar no mercado de trabalho?

GILMAR FREITAS: Não tive dificuldade, pois já comecei a trabalhar com sistema de voz para leitura das telas do computador desde o meu primeiro emprego. Aliás, considero isto um grande avanço. Atualmente desenvolvo meu trabalho com o auxílio do computador e da internet e sem estas tecnologias adaptadas os deficientes visuais seriam excluídos digitalmente.

NCEP: No mês passado, o Paraná Online publicou a notícia de que toda a cidade de Curitiba será sinalizada com pistas táteis, a fim de facilitar a locomoção de pessoas portadoras de deficiência visual. Qual sua opinião sobre isso?

GILMAR FREITAS: O correto seria reformar todas as calçadas, a pista tátil foi uma alternativa mais barata e de fácil execução. O problema é que todos vão utilizar a pista juntamente com as pessoas com deficiência visual e assim poderemos encontrar obstáculos no meioda pista. A lei prevê que nos terrenos públicos é obrigação da prefeitura construir e manter as calçadas, enquanto que os proprietários são responsáveis pela conservação das calçadas localizadas em frente aos seus imóveis. Se a calçada não é construída ou conservada, a prefeitura poderá executar a obra e cobrar essas despesas do proprietário. É responsabilidade do município fiscalizar a execução correta da pavimentação do passeio em frente ao imóvel de proprietários de terrenos, edificados ou não, localizados em logradouros que tenham ou não meio fio, de modo a mantê-los em bom estado de conservação, como previsto no artigo 28 da Lei Complementar º 12/1975. Sendo assim, fica claro que em Curitiba não há esta tal fiscalização da pavimentação!

NCEP: Mas você acredita que as pistas táteis são úteis ou limitam a locomoção do deficiente visual?

GILMAR FREITAS: Acho a pista tátil útil em ruas como a XV de Novembro, blocos e espaços abertos sem guia de direcionamento e em praças, no mais se houver o correto alinhamento dos prédios, casas e melhorias nas calçadas (incluindo a remoção ou sinalização dos obstáculos não percebidos pela bengala como orelhão, árvore e outros) resolveria os problemas encontrados pelos deficientes visuais ao se locomoverem de forma independente.

NCEP: Falando um pouco sobre inclusão cultural, você acredita que os deficientes visuais brasileiros estão satisfeitos com a quantidade de livros para ouvir e em Braille ?

GILMAR FREITAS: Acredito que sim, já trabalhei na seção Braille da Biblioteca Pública do Paraná e lá, a exemplo de outras bibliotecas e entidades, são disponibilizados alguns livros em Braille e outros em formatos digitais como audiobook e formatos compatíveis com os softwares de leitura em tela.

NCEP: Gostaria de deixar algum recado?

GILMAR FREITAS: Caro leitor, você poderá contribuir com uma sociedade mais inclusiva se informando sobre as lutas das pessoas com deficiências e as ajudando de alguma forma. Já às pessoas com deficiências gostariam de lembrar aquela frase que diz que devemos fazer parte da mudança que queremos ver no mundo!

Leia mais sobre educação inclusiva em: http://www.facinter.br/revista/numeros/3educacao.htm

Saiba mais sobre mim em: www.gilmar.dahora.net

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